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sábado, 2 de maio de 2020

A Glória de Cristo é o tesouro da Igreja - Uma Introdução a Carta de Paulo aos Efésios





         Prólogo
         Este texto tem por objetivo apenas apresentar um pouco do contexto geral dessa preciosa carta escrita por Paulo e auxiliar seja o pregador/professor a iniciar sua sequencia de exposições, ou o crente na sua leitura diária, observando como ponto de partida o modo como o Apóstolo saúda a igreja em seu início.

Efésios 1. 1 e 2

Introdução

Éfeso era um importante porto da Ásia Menor, localizado as margens do Mar Egeu, próximo a Corinto que ficava do outro lado da margem. Tratava-se de uma das sete igrejas a quem Jesus endereçou suas cartas em Ap. 2-3, um fato relevante para estudar esta epístola, uma vez que ela circulou originalmente para quase o mesmo grupo de igrejas. Embora Paulo já tivesse estado em Éfeso antes (At. 18.21), ele foi Propagar o Evangelho pela primeira vez e plantar uma Igreja lá no inverno de 55 d.C. Lá ele ministrou por dois anos inteiros (At. 19.8-10), desenvolvendo um relacionamento tão profundo com os efésios que sua mensagem de despedida a eles é uma das passagens mais emocionantes da Bíblia (At. 20.17-38).
Houve um grande avivamento naquela cidade. Um lugar marcado pela presença de inúmeros Magos e Feiticeiros, que se converteram a Cristo, chegando a realizar uma grande fogueira em praça pública onde inúmeros livros de magia fora queimados.
Durante dois anos a comunidade de Éfeso cresceu e se consolidou como uma importante igreja no contexto do Novo Testamento. No entanto, a de se perceber a medida que nos deparamos com os textos sagrados que todo esse crescimento sofre uma terrível interrupção, seguida por um retrocesso em sua caminhada cristã. Haja vista a advertência recebida por eles da parte de Jesus, direcionada pelas mãos do Apóstolo João, em Apocalipse.
Ao receber a notícia de como se encontrava a condição espiritual daquela Igreja, Paulo, movido por grande amor, mesmo estando preso decide enviar-lhe uma carta que de algum modo possa surtir algum efeito, afim de redirecionar essa igreja novamente ao caminho do progresso da fé. Para isso eles precisavam ser lembrados ou instruídos de verdades preciosas que os impulsionariam a esse avanço.
A Epístola escrita por Paulo aos Efésios é de uma beleza incomparável em sua relação vital entre teologia e vida cristã. Paulo ao escrevê-la, inspirado por Deus, trata na sua primeira parte (capítulos 1 a 3) de assuntos que permeiam o propósito redentor e  eterno de Deus o qual é pleno de sabedoria, bondade, justiça e amor. Depois, numa segunda parte (capítulos 4 a 6), o Apóstolo discorre sobre temas vivenciados cotidianamente por todos os seres humanos: questões comportamentais, relação familiar – com todos os seus ingredientes –, vida social e, a vida religiosa.
Possivelmente, em Efésios, entre todas as epístolas paulinas, tenhamos de forma mais contundente a mistura entre doutrina e a prática da vida cristã; o conhecimento de Deus e a prática de vida. Esta carta é um sublime e majestoso tratado teológico-devocional.
John Stott inicia o seu Comentário, dizendo que “A carta os Efésios  é um resumo,muito bem elaborado das boas novas do cristianismo e de suas implicações. Ninguém pode lê-la sem ser compelido a adorar a Deus e a ser desafiado a melhorar a sua vida cris”.
Nesta epístola temos uma relação direta entre a doutrina, o culto e a vida. De fato, separar esses três elementos, irá nos conduzir a uma atrofia espiritual que prejudica todo o corpo. Calvino (1509-1564) resume: “O genuíno propósito da doutrina é adequar nossa união como igreja a fim de desenvolvermos o varão perfeito, à medida da plena maturidade (Ef. 4.14)”.
O grande tema de Efésios se constituem em: O Deus glorioso, os Seus feitos redentores e as implicações destas realidades espirituais na vida da igreja.Trazendo a nós uma mensagem essencialmente teológica. A Pessoa do Deus Bendito (Ef, 1.3) transita em todos os versos da Epístola nos conduzindo à gratidão a Deus por nos ter, mediante a sua graça, propiciado conhecê-Lo por intermédio de Seus atos abençoadores.
A preciosidade de Efésios está no Seu conteúdo e este, alimenta e fortalece a nossa fé.
Efésios pode ser considerada“ uma das mais divinas composições do homem ”.Como curiosidade cito o que John Knox (1514-1572), o pai do presbiterianismo, quando estava moribundo, em seu leito, frequentemente pedia que os “Sermões sobre a Carta aos Efésios”, de Calvino (1509-1564), fossem lidos perante ele.

Vamos juntos analisar mais profundamente a forma como este primeiro capítulo da Epístola começa sob a perspectiva que nos parece o tema da Carta: O Deus Bendito.

“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Ef. 1.1).

Paulo inicia a Epístola como de costume, identificando-se e, apresentando o que considera o mais importante para os seus leitores: a fonte de sua autoridade apostólica; a sua vocação que veio não por força ou vontade humana mas por vontade de Deus: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus” (Ef. 1.1 / Rm. 1.1-5; 1 Co. 1.1; 2 Co. 1.1; Cl. 1.1; 2 Tm. 1.1).“ O apostolado de Paulo era algo que existia para o louvor e glória de Deus, pois esse homem (Paulo) foi transformado de um inimigo da igreja, em um dos servos mais dedicados a Obra do Senhor” .
A sua mensagem não era uma nova filosofia resultante de reflexões retiradas de sua própria cabeça ou de alguma experiência mística ou mesmo de vida, antes, ele falava em nome de Deus; da parte de Deus; E era de fato um enviado de Deus.
Pensando no que o apóstolo nos ensina por meio desse princípio, devemos frisar que da mesma forma, um pregador que proclama a Palavra de Deus, não fala por si mesmo, mas transmite a mensagem compelido pelo Espirito. E para que isto seja feito com fidelidade, é necessária uma interpretação cuidadosa do texto Bíblico, considerando o seu contexto, um estudo minucioso e bem feito das escrituras Sagradas, a fim de que ensinemos com fidelidade o que o texto diz.
O sermão parte do texto; é preciso cultivar a honestidade para com o texto respeitando-o dentro do seu contexto. Portanto, devemos permanecer fiéis ao texto; somos servos do texto,não o seu senhor.
Deus transforma pecadores por meio de Sua Santa Palavra, não por intermédio de nosso discurso. “O pregador deve servir ao texto, pois se a Palavra é a presença mediadora do próprio Cristo, o serviço é devido .
Lutero acentuou que “Não há tesouro mais precioso,nem coisa mais nobre na terra e nesta vida do que um verdadeiro e fiel pastor ou pregador”.
K. Barth (1886-1968) exorta: “Para ser positiva, a pregação deve ser uma explicão da Escritura .

“Por vontade de Deus” (Ef. 1.1)

Percebemos logo de início um aspecto fundamental do Deus Bendito: a Sua Soberania. Ele como Senhor da Igreja é quem vocaciona os Seus servos. A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Portanto, a vocação não pode ser legítima a menos que proceda dele.
A vocação de Deus antecede à nossa convicção e, ao mesmo tempo, o chamado não cai no vazio; Deus mesmo nos confere esta certeza subjetiva de que foi Ele Quem nos chamou para o Seu serviço.
Efésios 3.7: “Fui feito ministro desse Evangelho, segundo o dom da graça de Deus, que me foi concedida conforme a atuação do seu poder.”
Deste modo, nenhum homem deve tomar essa honra para si próprio, mas deve esperar pela vocão divina, pois Deus é o único que pode legitimar os ministros. Portanto, o que torna uma pessoa capacitada para um ofício, é a vocação de Deus.
Hebreus 5.4: “Ninguém toma essa honra para si, a não ser quando chamado por Deus, como no caso de Arão.”
Paulo diz que é “apóstolo de Cristo Jesus” (Ef. 1.1), a Quem ele reconhece como Senhor (Ef 1.2).O substantivo apostolo ocorre 79 vezes no Novo Testamento, sendo costumeiramente usado por Paulo no início de cada uma de suas cartas, ainda que não exclusivamente.Seu significado é “enviar’, “mandar” (Mt. 2.16; 11.10; Jo. 1.6; At. 3.20).
O apostolado pressupõe a graça de Deus. A sua autoridade está justamente no fato de que é Deus quem o constitui. Um sujeito para ser denominado apóstolo deveria ser testemunha da ressurreição e chamado pelo próprio Jesus. Portanto somente aqueles 12 discípulos mais o Paulo, podem ser chamados de apóstolos. Diferente do que vemos nos nossos dias.
É desta forma que Paulo escreve aos Romanos e aos Gálatas: “.... Jesus Cristo, nosso Senhor, por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por  fé, entre todos os gentios” (Rm. 1.4-5).
A vontade de Deus revelada em seu apostolado não era mera ilusão, algo distante e apenas virtual, antes se materializava no seu sincero esforço por discernir a vontade de Deus em seus propósitos por mais santos que estes lhes parecessem.
Paulo desejava muito visitar a Igreja de Roma que ele mesmo não conhecera ainda que tivesse muitos irmãos ali congregados. Ele orava já há algum tempo sobre este assunto: “Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós em todas as minhas orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos” (Rm. 1.9-10).
Quando Paulo estava em Corinto acredita ter uma boa oportunidade de visitar Roma. Contudo, antes deve passar pela Judéia para levar as ofertas para os santos dali. Sua trajetória seria arriscada visto ter muitos inimigos na região. Ele então pede aos crentes romanos: “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que es- te meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa alegrar-me convosco” (Rm. 15.30-32).

Ainda que nossos propósitos sejam santos, nem sempre é fácil discernir a vontade de Deus. Paulo cria ter boa ocasião para conhecer os irmãos de Roma, acreditava ter uma mensagem para eles, contudo, deseja saber se esta era a vontade de Deus naquelas circunstâncias. Ele só pôde ter esta certeza depois de preso, quando o próprio Senhor lhe garantiu que assim se sucederia. Todavia, não como Paulo, possivelmente desejava ou esperava (At. 23.11).

“Aos santos (...) e fiéis (crentes) em Cristo Jesus” (Ef. 1.1)

Paulo destina a sua Carta aos “santos” e “fiéis”. (Ef. 1.1). Ou seja, os efésios, como “Igreja de Cristo” é toda ela santa, separada para Deus. De fato, Paulo destina essa carta, bem como tantas outras a aquela que seria a igreja do Senhor, na qual ele um dia virá buscar, e que sem exceção, foram separados do mundo, da maldição resultante do pecado, para Deus; Portanto, mesmo com sérios problemas, havia ali em Éfeso, uma representatividade da Santa Igreja do Senhor Jesus Cristo.
A bem da verdade é que como Igreja, já não somos mais do mundo, conforme Jesus Cristo mesmo declara ao Pai em oração (Jo. 17.14). Fomos separados, tirados do domínio do mundo para Deus (Gl. 1.4). Esta santidade implicará em atitudes condizentes com a riqueza desta bênção.
Os membros da Igreja do Senhor são fiéis a Ele, são crentes em Cristo. Os santos são crentes. Não há crente que não seja santo e não há santo que não seja crente. Similarmente Paulo fala aos colossenses: “Aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos….” (Cl. 1.2).
Como a palavra fiel também tem o sentido de fidelidade, devemos enfatizar que a nossa santidade não é um status nominal vazio, antes, se revela em nossa fé em Cristo (sabemos em quem cremos) e em nossa integridade.
Deus é absolutamente fiel (1 Co. 1.9; 2 Tm. 2.13; Hb. 10.23); n’Ele podemos crer, porque n’Ele não há pecado, injustiça ou incapacidade em cumprir o que prometeu.
O nosso consolo nas provações repousa na fidelidade de Deus (1 Co. 10.13/ 2 Ts. 3.3). “Deus age consistentemente consigo mesmo, e jamais poderá desviar-se do que ele disse”. Então uma vez que Deus, ainda que sejamos falhos, prova ser Fiel a nós em nos separar desse mundo, o que se espera da sua igreja e dos seus servos?
O Novo Testamento destaca alguns homens que se revelaram fiéis no desempenho de suas responsabilidades: Timóteo (1 Co. 4.17); Tíquico (Ef. 6.21; Cl. 4.7); Epafras (Cl. 1.7); Onésimo (Cl. 4.9); Moisés (Hb. 3.5); Silvano (1 Pe. 5.12).
Um texto que nos serve de base sobre a fidelidade dos servos de Deus é 1 Co. 4.2, quando Paulo instrui: “Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel.” (1 Co. 4.2).

“Graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Ef 1.2).

Como de costume Paulo saúda os irmãos com a “graça” e a  paz”: “Graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Ef 1.2).
Paulo toma essas duas palavras – Graça (= saúde), que era a saudação dos gregos e, Paz, saudação dos judeus –, conferindo um sentido teológico: a paz é resultado da graça de Deus. Notemos que nas saudações de Paulo, ele nunca inverte esta ordem: a paz com Deus é resultado de Sua própria graça.
Devemos observar, contudo, que a paz aqui, deve ser entendida como “Riqueza Espiritual”. A paz como resultado da graça pressupõe um estado anterior de inimizade.
O Pecado nos colocou num estado de inimizade, hostilidade e ódio para com Deus: estávamos separados de Deus (Is 59.2). O homem encontrava-se num estado de rebelião contra Deus (Is 65.2). Portanto, a graça que nos vem por Cristo Jesus propiciou de forma eficaz a nossa reconciliação com Deus conduzindo-nos à paz com Ele.
Romanos 5:1 - “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.”
Agora, reconciliados com Deus, vivemos em paz, confiando inteiramente em Sua promessa. A paz da reconciliação nos conduz à paz interior e, em todas as nossas relações.
Não há nenhuma paz genuína que seja desfrutada neste mundo senão na atitude repousante nas promessas de Deus. Os que não lançam mão delas podem ser bem sucedidos por algum tempo em abafar ou expulsar os terrores da consciência, mas sempre deixarão de desfrutar do genuíno conforto íntimo.
A graça de Deus sempre antecede a paz. Fomos reconciliados com Deus por meio da Sua maravilhosa graça. Portanto, uma vez agraciados, gozamos da sua preciosa paz.
O primeiro e mais importante aspecto desta paz com Deus não é a paz do nosso coração, mas o fato de que Deus está em paz conosco, afinal não somos nós que seguramos a sua mão, mas Ele é quem segura a nossa mão.

Algumas reflexões pastorais, tiradas da introdução dessa importante carta:

1. Devemos ter sempre diante de nós o senso da soberania de Deus.
2. Quando Deus nos chama ao Seu serviço Ele nos qualifica para realizá-lo.
3. A Igreja de Deus é composta por todos aqueles que foram separados por Deus para viverem de forma íntegra: os santos são os crentes em Cristo.
4. Deus deseja de nós fidelidade no desempenho de nossa missão.
5. A fidelidade de Deus é o modelo que devemos buscar seguir e, ao mesmo tempo, é na fidelidade de Deus que encontramos o conforto em nossas adversidades.
6. A nossa paz com Deus é uma conquista da graça de Deus que nos foi derramada abundantemente em Cristo Jesus.
Esta preciosa carta, traz conteúdos preciosos para todos nós nos deleitarmos e nutrirmos nosso espírito. Que Deus possa falar abundantemente ao seu coração, cada vez que você puder se debruçar sobre essas Palavras!

Ministrado por:
Pr. Alysson Diniz

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