Efésios 1. 1 e 2
Introdução
Éfeso era um importante porto da Ásia
Menor, localizado as margens do Mar Egeu, próximo a Corinto que ficava do outro
lado da margem. Tratava-se de uma das sete igrejas a quem Jesus endereçou suas
cartas em Ap. 2-3, um fato relevante para estudar esta epístola, uma vez que ela
circulou originalmente para quase o mesmo grupo de igrejas. Embora Paulo já
tivesse estado em Éfeso antes (At. 18.21), ele foi Propagar o Evangelho pela
primeira vez e plantar uma Igreja lá no inverno de 55 d.C. Lá ele ministrou por
dois anos inteiros (At. 19.8-10), desenvolvendo um relacionamento tão profundo
com os efésios que sua mensagem de despedida a eles é uma das passagens mais
emocionantes da Bíblia (At. 20.17-38).
Houve um grande avivamento naquela
cidade. Um lugar marcado pela presença de inúmeros Magos e Feiticeiros, que se
converteram a Cristo, chegando a realizar uma grande fogueira em praça pública
onde inúmeros livros de magia fora queimados.
Durante dois anos a comunidade de
Éfeso cresceu e se consolidou como uma importante igreja no contexto do Novo
Testamento. No entanto, a de se perceber a medida que nos deparamos com os
textos sagrados que todo esse crescimento sofre uma terrível interrupção,
seguida por um retrocesso em sua caminhada cristã. Haja vista a advertência
recebida por eles da parte de Jesus, direcionada pelas mãos do Apóstolo João,
em Apocalipse.
Ao receber a notícia de como se
encontrava a condição espiritual daquela Igreja, Paulo, movido por grande amor,
mesmo estando preso decide enviar-lhe uma carta que de algum modo possa surtir algum
efeito, afim de redirecionar essa igreja novamente ao caminho do progresso da
fé. Para isso eles precisavam ser lembrados ou instruídos de verdades preciosas
que os impulsionariam a esse avanço.
A Epístola escrita por Paulo aos
Efésios é de uma beleza incomparável em sua relação vital entre teologia e vida cristã. Paulo ao escrevê-la, inspirado por Deus, trata na sua
primeira parte (capítulos 1 a 3) de assuntos que permeiam o propósito redentor
e eterno de Deus o qual é pleno de
sabedoria, bondade, justiça e amor. Depois, numa segunda parte (capítulos 4 a
6), o Apóstolo discorre sobre temas vivenciados cotidianamente por todos os
seres humanos: questões comportamentais, relação familiar – com todos os seus
ingredientes –, vida social e, a vida religiosa.
Possivelmente, em Efésios, entre todas
as epístolas paulinas, tenhamos de forma mais contundente a mistura entre doutrina e a prática da vida cristã; o conhecimento de Deus e a prática de vida. Esta carta é um sublime
e majestoso tratado teológico-devocional.
John Stott inicia o seu Comentário, dizendo
que “A carta os Efésios é um resumo,muito
bem elaborado das boas novas
do cristianismo e de suas implicações. Ninguém
pode lê-la sem ser compelido
a adorar a Deus e a ser
desafiado a melhorar a sua vida cristã ”.
Nesta epístola temos uma relação
direta entre a doutrina, o culto e a vida. De fato, separar esses três
elementos, irá nos conduzir a uma atrofia espiritual que prejudica todo o corpo.
Calvino (1509-1564) resume: “O genuíno propósito da
doutrina é adequar nossa união
como igreja a fim de desenvolvermos o varão perfeito,
à medida da plena maturidade (Ef. 4.14)”.
O grande tema de Efésios se constituem
em: O Deus glorioso, os Seus feitos redentores e as implicações destas
realidades espirituais na vida da igreja.Trazendo a nós uma mensagem
essencialmente teológica. A Pessoa do Deus Bendito (Ef, 1.3) transita em todos
os versos da Epístola nos conduzindo à gratidão a Deus por nos ter, mediante a
sua graça, propiciado conhecê-Lo por intermédio de Seus atos abençoadores.
A preciosidade de Efésios está no Seu
conteúdo e este, alimenta e fortalece a nossa fé.
Efésios pode ser considerada“ uma das mais divinas composições do homem ”.Como curiosidade
cito o que John Knox (1514-1572), o pai do presbiterianismo, quando estava
moribundo, em seu leito, frequentemente pedia que os “Sermões sobre a Carta aos
Efésios”, de Calvino (1509-1564), fossem lidos perante ele.
Vamos juntos analisar mais
profundamente a forma como este primeiro capítulo da Epístola começa sob a
perspectiva que nos parece o tema da Carta: O Deus Bendito.
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade
de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Ef. 1.1).
Paulo inicia a Epístola como de
costume, identificando-se e, apresentando o que considera o mais importante
para os seus leitores: a fonte de sua autoridade apostólica; a sua vocação que
veio não por força ou vontade humana mas por vontade de Deus: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade
de Deus” (Ef. 1.1 / Rm. 1.1-5; 1 Co. 1.1; 2 Co. 1.1; Cl. 1.1; 2 Tm. 1.1).“ O apostolado de Paulo era algo que existia para
o louvor e glória de Deus, pois esse homem (Paulo) foi transformado de um
inimigo da igreja, em um dos servos mais dedicados a Obra do Senhor” .
A sua mensagem não era uma nova filosofia resultante
de reflexões retiradas de sua própria cabeça ou de alguma experiência mística
ou mesmo de vida, antes, ele falava em nome de Deus; da parte de
Deus; E era de fato um enviado de Deus.
Pensando no que o apóstolo nos ensina por
meio desse princípio, devemos frisar que da mesma forma, um pregador que proclama
a Palavra de Deus, não fala por si mesmo, mas transmite a mensagem compelido
pelo Espirito. E para que isto seja feito com fidelidade, é necessária uma
interpretação cuidadosa do texto Bíblico, considerando o seu contexto, um estudo
minucioso e bem feito das escrituras Sagradas, a fim de que ensinemos com
fidelidade o que o texto diz.
O sermão parte do texto; é preciso
cultivar a honestidade para com o texto respeitando-o dentro do seu contexto. Portanto, devemos permanecer fiéis ao texto;
somos servos do texto,não o seu senhor.
Deus transforma pecadores por meio de
Sua Santa Palavra, não por intermédio de nosso discurso. “O pregador deve
servir ao texto, pois se a Palavra
é a presença mediadora
do próprio Cristo, o serviço
é devido ”.
Lutero acentuou que “Não há
tesouro mais precioso,nem coisa mais
nobre na terra e nesta vida
do que um verdadeiro
e fiel pastor ou pregador”.
“Por vontade de Deus” (Ef. 1.1)
Percebemos logo de início um aspecto
fundamental do Deus Bendito: a Sua Soberania. Ele como Senhor da Igreja é quem
vocaciona os Seus servos. A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja.
Portanto, a vocação não pode ser legítima a menos que proceda dele.
A vocação de Deus antecede à nossa
convicção e, ao mesmo tempo, o chamado não cai no vazio; Deus mesmo nos confere
esta certeza subjetiva de que foi Ele Quem nos chamou para o Seu serviço.
Efésios 3.7: “Fui feito
ministro desse Evangelho, segundo o dom da graça de Deus, que me foi concedida
conforme a atuação do seu poder.”
Deste modo, nenhum homem deve tomar
essa honra para si próprio, mas
deve esperar pela vocação divina,
pois Deus é o único que pode legitimar
os ministros. Portanto, o
que torna uma pessoa capacitada para um ofício, é a vocação de Deus.
Hebreus 5.4: “Ninguém
toma essa honra para si, a não ser quando chamado por Deus, como no caso de
Arão.”
Paulo diz que é “apóstolo de Cristo Jesus” (Ef. 1.1), a Quem ele reconhece como Senhor (Ef 1.2).O substantivo apostolo ocorre 79 vezes no Novo
Testamento, sendo costumeiramente usado por Paulo no início de cada uma de suas
cartas, ainda que não exclusivamente.Seu significado é
“enviar’, “mandar” (Mt. 2.16; 11.10; Jo. 1.6; At. 3.20).
O apostolado pressupõe a graça de
Deus. A sua autoridade está justamente no fato de que é Deus quem o constitui. Um
sujeito para ser denominado apóstolo deveria ser testemunha da ressurreição e
chamado pelo próprio Jesus. Portanto somente aqueles 12 discípulos mais o
Paulo, podem ser chamados de apóstolos. Diferente do que vemos nos nossos dias.
É desta forma que Paulo escreve aos
Romanos e aos Gálatas: “.... Jesus
Cristo, nosso Senhor, por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado
por amor do seu nome, para a obediência por
fé, entre todos os gentios” (Rm. 1.4-5).
A vontade de Deus revelada em seu apostolado não era mera ilusão,
algo distante e apenas virtual, antes se materializava no seu sincero esforço
por discernir a vontade de Deus em seus propósitos por mais santos que estes
lhes parecessem.
Paulo desejava muito visitar a Igreja de Roma que ele mesmo não
conhecera ainda que tivesse muitos irmãos ali congregados. Ele orava já há
algum tempo sobre este assunto: “Porque
Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha
testemunha de como incessantemente faço menção de vós em todas as minhas
orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me
ofereça boa ocasião de visitar-vos” (Rm. 1.9-10).
Quando Paulo estava em Corinto acredita ter uma boa oportunidade
de visitar Roma. Contudo, antes deve passar pela Judéia para levar as ofertas
para os santos dali. Sua trajetória seria arriscada visto ter muitos inimigos
na região. Ele então pede aos crentes romanos: “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo
amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor,
para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que es- te meu
serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos; a fim de que, ao
visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e
possa alegrar-me convosco” (Rm. 15.30-32).
Ainda que nossos propósitos sejam
santos, nem sempre é fácil discernir a vontade de Deus. Paulo cria ter boa
ocasião para conhecer os irmãos de Roma, acreditava ter uma mensagem para eles,
contudo, deseja saber se esta era a vontade de Deus naquelas circunstâncias.
Ele só pôde ter esta certeza depois de preso, quando o próprio Senhor lhe
garantiu que assim se sucederia. Todavia, não como Paulo, possivelmente
desejava ou esperava (At. 23.11).
“Aos santos (...) e fiéis (crentes) em Cristo Jesus” (Ef. 1.1)
Paulo destina a sua Carta aos “santos” e “fiéis”. (Ef. 1.1). Ou seja, os efésios, como “Igreja de Cristo” é
toda ela santa, separada para Deus. De fato, Paulo destina essa carta, bem como
tantas outras a aquela que seria a igreja do Senhor, na qual ele um dia virá
buscar, e que sem exceção, foram separados do mundo, da maldição resultante do
pecado, para Deus; Portanto, mesmo com sérios problemas, havia ali em Éfeso,
uma representatividade da Santa Igreja do Senhor Jesus Cristo.
A bem da verdade é que como Igreja, já
não somos mais do mundo, conforme Jesus Cristo mesmo declara ao Pai em oração
(Jo. 17.14). Fomos separados, tirados do domínio do mundo
para Deus (Gl. 1.4). Esta santidade implicará em atitudes condizentes com a
riqueza desta bênção.
Os membros da Igreja do Senhor são
fiéis a Ele, são crentes em Cristo. Os santos são crentes. Não há crente que
não seja santo e não há santo que não seja crente. Similarmente Paulo fala aos
colossenses: “Aos santos e fiéis irmãos
em Cristo que se encontram em Colossos….” (Cl. 1.2).
Como a palavra fiel também tem o sentido de fidelidade, devemos enfatizar que a nossa
santidade não é um status nominal
vazio, antes, se revela em nossa fé em Cristo (sabemos
em quem cremos) e em nossa integridade.
Deus é absolutamente fiel (1 Co. 1.9; 2 Tm. 2.13;
Hb. 10.23); n’Ele podemos crer, porque n’Ele não há pecado, injustiça ou
incapacidade em cumprir o que prometeu.
O nosso consolo nas provações repousa
na fidelidade de Deus (1 Co. 10.13/ 2 Ts. 3.3). “Deus age consistentemente consigo
mesmo, e jamais poderá desviar-se do que ele disse”. Então uma vez que Deus, ainda que sejamos falhos, prova ser Fiel a nós em
nos separar desse mundo, o que se espera da sua igreja e dos seus servos?
O Novo Testamento destaca alguns homens que se revelaram fiéis no
desempenho de suas responsabilidades: Timóteo
(1 Co. 4.17); Tíquico (Ef. 6.21; Cl. 4.7); Epafras (Cl. 1.7); Onésimo (Cl. 4.9); Moisés (Hb. 3.5); Silvano (1 Pe. 5.12).
Um texto que nos serve de base sobre a fidelidade dos servos de
Deus é 1 Co. 4.2, quando Paulo instrui: “Ora, além disso, o que se requer dos
despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel.” (1 Co. 4.2).
“Graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do
Senhor Jesus Cristo” (Ef 1.2).
Como de costume Paulo saúda os irmãos com a “graça” e a “paz”: “Graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor
Jesus Cristo” (Ef 1.2).
Paulo toma essas duas palavras – Graça (= saúde), que era a saudação dos gregos e, Paz, saudação dos judeus –, conferindo
um sentido teológico: a paz é resultado da graça de Deus. Notemos que nas saudações
de Paulo, ele nunca inverte esta ordem: a paz com Deus é resultado de Sua própria
graça.
Devemos observar, contudo, que a paz aqui, deve ser entendida como
“Riqueza Espiritual”. A paz como resultado da graça pressupõe um estado anterior de
inimizade.
O Pecado nos colocou num estado de inimizade, hostilidade e ódio para
com Deus: estávamos separados de Deus (Is 59.2). O homem
encontrava-se num estado de rebelião contra Deus (Is 65.2). Portanto, a graça
que nos vem por Cristo Jesus propiciou de forma eficaz a nossa reconciliação
com Deus conduzindo-nos à paz com Ele.
Romanos 5:1 - “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.”
Agora, reconciliados com Deus, vivemos em paz, confiando
inteiramente em Sua promessa. A paz da reconciliação nos conduz à paz interior
e, em todas as nossas relações.
Não há nenhuma paz genuína que seja desfrutada neste mundo senão
na atitude repousante nas promessas de Deus. Os que não lançam mão delas podem
ser bem sucedidos por algum tempo em abafar ou expulsar os terrores da
consciência, mas sempre deixarão de desfrutar do genuíno conforto íntimo.
A graça de Deus sempre antecede a paz.
Fomos reconciliados com Deus por meio da Sua maravilhosa graça. Portanto, uma
vez agraciados, gozamos da sua preciosa paz.
O primeiro e mais importante aspecto
desta paz com Deus não é a paz do nosso coração, mas o fato de que Deus está em
paz conosco, afinal não somos nós que seguramos a sua mão, mas Ele é quem
segura a nossa mão.
Algumas reflexões pastorais, tiradas da
introdução dessa importante carta:
1. Devemos ter sempre diante de nós o senso da soberania de Deus.
2. Quando Deus nos chama ao Seu serviço Ele nos qualifica para realizá-lo.
3. A Igreja de Deus é composta por todos aqueles que foram separados
por Deus para viverem de forma íntegra: os santos são os crentes em Cristo.
4. Deus deseja de nós fidelidade no desempenho de nossa missão.
5. A fidelidade de Deus é o modelo que devemos buscar seguir e, ao
mesmo tempo, é na fidelidade de Deus que encontramos o conforto em nossas
adversidades.
6. A nossa paz com Deus é uma conquista da graça de Deus que nos foi
derramada abundantemente em Cristo Jesus.
Esta preciosa carta, traz conteúdos preciosos para todos nós nos
deleitarmos e nutrirmos nosso espírito. Que Deus possa falar abundantemente ao
seu coração, cada vez que você puder se debruçar sobre essas Palavras!
Ministrado por:
Pr. Alysson Diniz
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